Escala e complexidade. Dois monstros que têm atormentado a vida de quem trabalha com produtos digitais. Tudo tem que servir todo mundo o tempo todo, sem quebrar nada.
O mundo que a gente vive nos inclina a pensar num modo adição: inclua isso, adicione aquilo, duplique isso. Sempre mais.
Gerar valor é adicionar, não subtrair.
É assustador, por exemplo, visitar avós e ver seus móveis ou aparelhos que tem a nossa idade e continuam sendo usados:
— Nossa vô, essa geladeira é mais velha que eu!
— Eu só troquei o relé uma vez faz 10 anos e continua boazinha…
Hoje? Deus me livre um aplicativo ficar 30 dias sem incluir uma nova funcionalidade.
No fim, quem lida com a sobrecarga de novidades? Nossos amados usuários que recebem nossas adoráveis dezenas de notificações, SMS’s, ligações, alertas, banners, in-apps, e-mails, mensagens de WhatsApp…
Precisamos nos forçar a ter em mente uma coisa:
Nem tudo tem valor o tempo todo.
É praticamente um fato: ofertar mais funcionalidades gera mais engajamento e retenção — o problema é associar isso com ofertar tudo, o tempo todo, ao mesmo tempo.
Designers precisam pensar mais em:
Quando remover uma oferta; e não só em quando promover.
Quando reorganizar um elemento; e não só em quando incluir.
Quando ocultar uma função; e não só em quando exibir.
Quando fasear um processo; e não só em quando correr.
Simplicidade não é simples e nossas funcionalidades talvez nunca foram um MVP.
Apesar disso ser claro, aplicar isso não é.
Só sabemos quando algo realmente importa pra quem usa nossos produtos quando temos essa informação — passiva ou ativamente, mas sempre eticamente — e, aí sim, podemos responder perguntas essenciais:
Qual é a melhor coisa pra sugerir agora pra atender as necessidades dessa pessoa? Por quanto tempo? E como vou saber se essa sugestão foi útil ou não?
Só conseguiremos lidar com escala e complexidade quando aprendermos a lidar com contexto.
Referências
Is your product really an MVP? — Soyeon Lee
Simplicidade não é simples — Fabricio Teixeira
Via Negativa — Adrian Zumbrunnen