A edição dessa semana vem num tom um pouco mais pessoal — quase um desabafo.
Fica o lembrete que sei que tenho vantagens, privilégios e principalmente limitações de conhecimento. É apenas uma análise pessoal, e claro, enviesada. Muito menos passar a impressão de que “eu”, sou quem vai mudar algo. Isso deve ser feita de forma coletiva e, preferencialmente, representada por quem passa pelos desafios na pele.
Se tiver outra percepção ou visão, vou adorar saber. Sério mesmo!
Sobre os conteúdos mais estruturados, com referências e tudo mais; o trabalho e as responsabilidades tem exigindo bastante (mas tá tudo bem!). Em breve voltamos :)
Abraço,
Rafael Frota
Não sei se por conta do fim do ano estar chegando — ou porque os 30 chegaram — mas, tenho pensado muito ultimamente sobre futuro. O futuro do Design pra ser mais específico.
Boa parte desses questionamentos vem por conta de um sentimento; uma espécie de… solidão.
Sinto que nossa disciplina está dividida.
Antes o sentimento era de sermos “um só” em UX, e hoje temos diversos subnichos: UX Research, UX Writing, Design System, DesignOps, UX Strategy, UX Whatever. O que em partes nos uniu, só que também nos afastou — mas também pode ser simplesmente impressão.
Quando presto atenção nas iniciativas da nossa disciplina — nem sempre, mas geralmente — são focadas em necessidades individuais e se enquadram em três categorias:
Monetária (cursos, workshops, etc)
Tom professoral (conteúdos, livros, recursos), ou
Um misto dos dois
Veja bem: não é uma crítica; é uma análise. Vivemos tempos difíceis e nada disso está sob questão.
Porém, é como se o problema da nossa disciplina fosse apenas educacional. Falta conteúdo. Falta estudo. Falta conhecimento. Sim, falta. E não precisa nenhum gringo falar isso pra gente.
Mas, será que isso é o mais importante?
Será que esse é o meio mais efetivo?
Será que não estamos nos isentando da responsabilidade?
Será que estamos mais preocupados em olhar para nós e para o nosso futuro, ou será que estamos simplesmente fechando os olhos?
Será que não estamos — assim como eu hipocritamente estou agora — apenas iniciando discussões que virarão posts de LinkedIn e pautas de vídeos, mas que não se tornam iniciativas práticas?
Será que não estamos reproduzindo um pensamento como:
“Se as pessoas lessem meu livro, comprassem o meu curso, se inscrevessem no meu canal e estudassem mais, nossa disciplina não estaria assim.”
Por que não estamos falando sobre ética? Sobre responsabilidades como designers? Sobre acessibilidade? Diversidade e inclusão? Sobre acesso do design a mais pessoas? Sobre regulamentação da profissão (ou profissões)?
São tantos assuntos e sinto que não temos visibilidade deles.
Quais são os problemas — ou melhor: quais são os desafios em Design?
E, pessoalmente, acredito que boa parte desses desafios não será resolvido com uma edição de newsletter, um artigo, um vídeo ou mais um curso ou livro publicado.
Provavelmente, só serão resolvidas politicamente.
Mas, quando não estamos unidos nem virtualmente, quem vai nos representar?
De toda forma, esse afastamento do coletivo, da comunidade, me faz pensar que pessoalmente, não sabemos e mal fazemos ideia do que queremos como futuro para a nossa disciplina e de quais são os desafios existentes.
Temos, talvez, ideais individuais — que, de certa forma estão sendo cumpridas com criação de conteúdo — mas coletivas? Não tenho certeza.
O importante, e o que me mantém esperançoso, é que nunca é tarde demais.
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E você, o que acha?
Boa semana e até segunda,
Rafael Frota.
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Me fez lembrar dos eventos de front-ends (chamados "Front in" Floripa, Recife, etc) isso impulsionou muito a comunidade de devs e projetos open sources, não me lembro de um movimento parecido na comunidade de design.
Eu acredito que toda pessoa que está com mais maturidade começa a enxergar a própria profissão por esse prisma.
As vezes eu fico com muita preguiça de sequer me envolver na comunidade novamente. De um lado tem um monte de gente nova ligada no 220v criando conteúdo como se fosse fator determinante para ser um bom designer, e do outro tem um monte de gente tentando pegar o mesmo bonde.
A saída que eu encontrei para o meu caso foi diminuir a exposição e criar coisas de maneira discreta. Compartilhar com mais responsabilidade e atingir pessoas que realmente querem se conectar com o tipo de conteúdo que crio. Tentar atingir todo mundo é excitante mas quando você para de fazer, você percebe que 95% das pessoas vão migrar para o próximo designer influencer.