
Tem algo matando sutilmente nossa forma de fazer design — e não é uma IA.
Fazemos design em casa, e nosso contato com o que criamos é por um monitor. E, quando esse design vai pra rua, ouvimos falar dele também pelos monitores.
Um NPS. Uma nota. Uma métrica.
Como isso influencia o que criamos?
Há tempos venho refletindo sobre como me inspiro, que consequentemente influencia como faço design.
Trabalho, talvez assim como você, em casa. Não saio muito, e quando saio geralmente tem um objetivo prático: ir ao mercado, buscar algo, encontrar alguém, etc.
A correria da vida (imagino que principalmente no eixo RJ-SP), não dá muito tempo pra contemplação. Se você sai, o objetivo é resolver o que precisa o mais rápido possível pra voltar novamente pra casa.
Nesse momento, nossa visão é míope e só foca no que precisamos resolver. Não há nitidez em mais nada. Nisso, perdemos, obviamente, um milhão de oportunidades de ver o design em prática.
Sim, os mapas de calor, eventos de analytics e entrevistas remotas são importantes; mas o design do dia a dia está fora do roteiro. Está nas notificações do celular da sua mãe; na forma que digitam; nos vídeos e buscas que fazem (e como fazem); não dá pra assistir isso com personas sintéticas.
Me considero sortudo: o produto que trabalho é amplamente usado. Não é incomum sair de casa e ver uma maquininha ou alguém usando nosso app — o que é fantástico e gera conversas e perguntas. Mas extrapolando o meu produto: onde está o design? Não está em tudo? Então por que não prestamos atenção?
Nunca esqueço uma frase do livro Inteligência Visual (bem pouco conhecido, por sinal) onde Amy Herman diz:
“O visitante médio de um museu passa dezessete segundos olhando para cada obra de arte […]
A professora Jennifer L. Roberts, que leciona história da arte e Harvard, requer que seus alunos fiquem sentados diante de [apenas] um quadro durante três horas inteiras […]”
O objetivo desse pensamento não é gerar um sentimento de culpa.
Sabemos muito bem que observar (e até mesmo contemplar) o design em seus pequenos detalhes no dia a dia no sistema e ambiente que vivemos é muitas vezes um ato de rebeldia.
O objetivo é gerar um sentimento de prazer. Como disse Rafaela Calheiros:
“Toda bagagem teórica, cedo ou tarde, encontra seu caminho na prática”.
Vamos sair de casa.
Vamos prestar atenção.
Vamos ter interesse pelo puro interesse.
Vamos influenciar positivamente nossa forma de fazer design.
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