Sei que parece algo difícil de se ouvir (ou de se ler), mas acredite, enquanto escrevia essas palavras estava em um ônibus viajando há mais de 1 hora e meia. Tive bastante tempo de reflexão.
Portanto, repito: ninguém liga pro seu processo. E vou te dizer o porquê.
Prazer, processo
Quem chegou recentemente na área (~2018) começou a aprender sobre Design e UX não como uma disciplina, mas como uma abordagem.
Apesar de estudarem “O que é UX?” ou “O que é Design?” o ensino é criado em cima de métodos e processos para criação de cases:
Designer (hoje) é quem tem um bom portfólio.
O que é preciso para um bom portfólio? Cases.
E como se monta um case? Seguindo um processo.
Logo, não é estranho ver recém-designers com tanto apego ao processo. Ora, foi ele, o processo, que fez com que conseguissem uma ascensão profissional.
Além disso, note que escrevi “Prazer, processo” e não “processos”. Apesar dos cursos apresentarem outros métodos, na cabeça dos estudantes, seus cases são construídos seguindo um único “processão”:
“Meu processo? Eu faço uma CSD, impacto x esforço, pesquisa quali e quanti, persona, jornada, crazy eights, wireframe, business model canvas, value proposition canvas, HEART, AARRR. protótipo de alta fidelidade e testes de usabilidade!”
O problema não é seguir processos.
O problema é seguir e acreditar que existe um — e somente um — processo.
Prazer, vida real
Quando essas pessoas apresentam ao mercado seus projetos, adivinha onde acreditam entregar mais valor? Sim, em seus processos.
Já avaliei e entrevistei pessoas o suficiente pra notar um padrão. Geralmente suas apresentações se parecem com um checklist de atividades:
— “Eu fiz uma persona… Usei o 5W1H… Fiz uma jornada… Fiz um brainstorming… Fiz uma votação… Fiz um roteiro de pesquisa… Fiz um teste de usabilidade…”
Ninguém liga.
Ninguém se importa tanto assim com o que você fez.
As pessoas querem saber porque fez e o que aprendeu.
“Fiz uma persona…” — E aí? Como ela te ajudou? Por que ela importa?
“Fiz entrevistas com usuários” — E o que aprendeu? Quais eram suas hipóteses? Elas foram validadas ou invalidadas? Como isso definiu seus próximos passos?
“Fiz testes de usabilidade…” — Com quantas pessoas? Quais os resultados? Como isso impactou o projeto? Como era antes e como ficou depois?
O seu checklist de atividades de UX não vai te salvar; pelo contrário.
Numa narrativa, seu processo seria uma pessoa calçando as meias e amarrando o cardaço, enquanto as pessoas anseiam pra vê-la correndo e segurando a medalha.
O que as pessoas ligam afinal
Se eu precisasse apresentar um projeto ou falar sobre meu trabalho, eu daria preferência para:
Aprendizados. O que aprendi? Como foi? O que teve de interessante?
Discernimento. Por que fiz dessa e não de outra forma? Quais as justificativas?
Análise. O que eu faria de diferente? Teve algo que não saiu como planejado?
Consequência. O que fazer como eu fiz implicou? Eu estava ciente disso?
Resultados. O que deu? Fazer tudo o que eu fiz deu resultados? Pra quem?
A melhor parte da viagem não é o trajeto ou estações, mas tudo o que acontece até chegar lá.
Referências
Ferramentas, processos e comunicação. O que é mais importante?. Júlio César
O tal do processo de design. Leandro Lima
Stop talking about your process — start having a conversation. Robert Sens
The case study factory. UX Collective
The contributions of central versus peripheral vision to scene gist recognition. Adam M Larson, Lester C Loschky
Why companies don't care about your UX design process!. Fahim MD
Me conta mais do seu processo pra escrever esse texto… ;)
Adorei! Faz todo o sentido!