De tempos em tempos reflito sobre uma pergunta: quais as características que uma pessoa responsável pelo design deve ter?
É algo difícil de responder e vários já tentaram.1
Minha resposta sempre muda. Cada hora vai para uma linha: responsabilidade, organização, bom gosto ou até o equilíbrio entre todas essas coisas.
Hoje, cheguei a mais uma resposta: esmero.2
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Descascando cogumelos
Enquanto não conseguia pensar no que escrever para a edição dessa semana, estava assistindo The Bear (O Urso, 2022). Na série, acompanhamos Carmy (Jeremy Allen White), um chef renomado, tentar transformar a lanchonete da sua família em um restaurante premiado com ajuda de uma equipe “medíocre”.
Uma dessas pessoas é Richie (Ebon Moss-Bachrach), primo de Carmy.
Richie é uma pessoa problemática e emocionada, no sentido de ser dominado pelas suas emoções, geralmente negativas.
Na segunda temporada, ele vai a um estágio em um restaurante 3 estrelas Michelin da chef Terry. Durante esse estágio — não entrando no campo dos spoilers — há um diálogo, que mexeu bastante comigo.
Richie observa a grande chef Terry descascando cogumelos, e, inconformado, pergunta:
‒ Então… Por que faz isso?
‒ Eu faço isso para viver… [rindo]
‒ Não… Mas… Não tem estagiários pra fazer essa merda?
‒ Sim. Mas gosto de começar o dia com isso.
‒ Por quê?
‒ Respeito. Você se sente comprometido. Acho que o tempo fazendo isso é um tempo bem gasto.
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Não existe outro jeito
Esse pequeno diálogo me fez lembrar de inúmeros momentos:
Quando há um detalhe em um texto, ícone ou até conceito de uma proposta
Quando enviam um vídeo de apresentação explicando o racional de uma proposta
Quando vejo um Figma com fluxos bem organizados e layers nomeadas
Quando abro um projeto e vejo o cuidado com documentação, links e referências
E todos aqueles pequenos detalhes que mostram que nos importamos.
Os designers que mais admiro têm esse cuidado com o próprio trabalho.
É um respeito pessoal.
Se você perguntar porque a pessoa teve tanto zelo e capricho, ela provavelmente dirá: “porque eu não sei fazer de outro jeito”.
A pessoa busca o profissionalismo em sua essência. Por mais que o zelo ao nosso trabalho seja mais útil para outros, você não faz para eles, você faz por você.
Não foi algo feito uma única vez ou por alguma cobrança: é porque esse esmero é algo praticamente intrínseco da pessoa3.
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Digo que o esmero é uma “característica perdida” com base em experiência pessoal de 9 anos. Não é algo comprovado cientificamente e pode ser considerado algo ambíguo ou genérico. Confesso. Mas, é algo que em todos esses anos, vi pouquíssimas vezes em ainda menos pessoas.
Entendo, claro, os contextos e cenários que, geralmente, levam a exploração e burnout. Não é possível, nem busco ignorar isso. Não é algo que deva ser buscado com afinco por quem está iniciando na área. A obsessão pelo esmero pode levar a paralisação ou ao atraso nas entregas.
Já para o público de designers que querem se aperfeiçoar, fica o recado:
Se queremos alcançar um nível de excelência, o esmero é o que diferencia bons designers de designers excelentes.
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Boa semana e até segunda,
Rafael Frota.
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Alex Horstmann, Characteristics of great designers.
Esmero + tempo hábil. Um projeto com zelo e refinamento, mas, fora do prazo, não conta.
Não quer dizer que esse zelo é aplicado a tudo e nem que devemos buscar encontrar “propósito” em nosso trabalho.
Reflexão que deu um quentinho no coração.
Excelente reflexão! 👏👏
Me fez identificar vários pontos que preciso melhorar 🙏