Ressalva
Os comentários dessa (e qualquer) edição são direcionados a ideias e mensagens; nunca a pessoas. Vamos construir um ambiente seguro para trocas?
Talvez esse post tenha passado pela timeline do seu LinkedIn na última semana:
O post passa mensagens importantes como considerar nossa intuição e sentimentos ao projetar, e sobre dedicação, abertura e curiosidade a educação visual.
E ele também dá abertura pra aprofundarmos em muitos tópicos que um post de LinkedIn — ou uma edição de newsletter — não permitem.
A intenção não é (nem nunca vai ser) encerrar os assuntos, mas, adicionar mais um olhar em cima do post. Vamos nessa?
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Visual⠀≠⠀Estética
Mesmo sendo designers, quando falamos sobre visual o nosso primeiro modelo mental não é tão diferente do senso-comum: visual é estética, beleza, expressão.
As críticas atuais sobre visual caem regularmente nesse campo: “os produtos são todos parecidos” ou “as experiências não têm identidade própria” — E sim! Elas podem realmente passar essa sensação; mas o que estamos criticando? A experiência ou a estética?
Estéticas similares podem passar experiências completamente diferentes.
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Visual é forma ou função?
Quando começamos a estudar Design, num momento ou outro a frase “A forma segue a função” nos atinge.
Acredito que esquecemos que visual, pra nós designers, cumpre os dois papéis: Visual é função e também é forma.
Mesmo que haja um desfalque de conhecimento e habilidades gráficas (e acredito haver), não acredito ser saudável pra profissão trocar uma coisa por outra; isso é justamente o que nos diferencia de artistas, algo que repetimos incansavelmente.
Assim, depois de estudar sobre a forma — o como — parece que olhar para a função — o porquê, os números, os objetivos — soa como um abandono de identidade: “Como assim agora eu preciso pensar em estratégia?”.
Precisamos tomar muito cuidado para não gerar essa divisão de pensamento em designers, novos ou antigos: forma e função não podem ser separados.
“Este ato de equilíbrio entre função e forma é uma das partes mais desafiadoras e gratificantes de ser designer digital.”
— Balancing form & function, The Guide to Design.
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O mapa não é o território
A profissão de Product Design realmente está mudando? O mercado quer designers e busca por portfólios visuais e mais conhecimentos sobre teoria de cores, tipografia, fotografia, Gestalt?
Como podemos afirmar isso com tantas realidades diferentes? Talvez até esteja, mas acredito que não aqui. No Brasil, por exemplo, visual sempre importou:
Designers juniores não entram no mercado sem portfólio.
O mercado cobra que esses portfólios sejam “bonitos” (reforçando que estética é importante).
Quando designers focam no visual, dizem “você não entende de negócio”.
Quando focamos em estratégia, dizem “desculpe, sua UI é fraca”.
É um beco sem saída.
Na realidade do Brasil, não temos “visual designers”. Essa separação é (quase) inexistente. Aqui temos UX/UI Designers. O mercado ainda busca por designers-unicórnio, que entendam de UX, UI, Copywriting e — se não for pedir muito — 3D, JavaScript e edição de vídeo.
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Visual pra quem?
Matemáticos acreditam que a matemática é o que mais importa, assim como designers visuais vão acreditar que visual é o que mais importa. Somos todos enviesados.
No fundo, sabemos que o mundo é mais complexo que isso e que as coisas são interconectadas.
Quem precisa de um motorista de aplicativo provavelmente não se importa com qual produto tem o visual mais “bonito”: ela escolhe o mais barato.
Quem se importa com isso somos nós; mas esse é o nosso papel, e não deve parar só na beleza estética.
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Você é Designer ou só faz Design?
Usar post-its não é fazer Design.
Fazer fluxogramas não é fazer Design.
Projetar experiências funcionais e “graciosas” não é fazer Design.
Design não é uma ação ou atividade isolada.
Design é uma profissão, e, como profissão, precisamos lembrar que temos responsabilidade porque nosso trabalho impacta a vida de milhares de pessoas.
Temos que tomar muito cuidado ao dizer que “fazer isso ou aquilo é fazer Design” para não reduzir Design a uma lista de tarefas ou uma habilidade específica.
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Andemos pra frente
No fim, é claro que visual importa. É claro que “criatividade” importa. Qualquer iniciativa que incentive e contribua pra uma boa educação em Design é bem-vinda.
O ponto é que não podemos deixar (de novo) que a estética e a criatividade sejam a estrela-norte do nosso trabalho.
Travamos uma batalha de valor todos os dias. Retomar essa discussão é dar incontáveis passos pra trás. Isso por um motivo:
Quem geralmente define o que é uma solução criativa não somos nós; são os outros.
Dar esse poder na mão de nossos colegas de trabalho (não inimigos) nos faz voltar a estaca zero, nos tornando a “pessoa criativa” que, sim, tem seu valor — mas não podemos parar nesse passo.
Não podemos deixar que nosso valor seja resultado direto do quão “criativas” são nossas soluções.
Isso é jogar fora todos esses anos de briga por um lugar a mesa.
O que você acha?
Peço desculpas antecipadas por escrever sobre um tema mais delicado sem tanto tempo e com menos referências do que o comum.
Mas o que você acha? Concorda? Discorda?
Quero muito ouvir sua opinião nos comentários :)
Agradecimento especial ao por incentivar e inspirar boa parte dessa reflexão, pensamentos e argumentos.
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Gostei da reflexão e concordo com você que tanto o a forma quanto a função não podem ser separadas. Alguns dias atrás usei a analogia de que somos tipo água e farinha ao invés de água e óleo. Depois de apanhar bastante, nossa massa se transforma num pão bonito e gostoso.
Quando vejo alguém perguntando "será que devo focar em UI ou UX" eu sempre respondo que todo bom designer que conheço não faz essa distinção.
Excelente Texto!